MARIA PEIXOTO MARTINS

The King of The Rood, 2023

PT
Pi
Pi

Pii Pi Pii Piiiiiiii
Ouve-se.
Na realidade sente-se, o som quebra a barreira auditiva e entra pelo nosso corpo fazendo sentir- se por ele inteiro, é um som que se vê e se sente na reverberação, até se poderia dizer que tem sabor a som, sabor a carro, sabor a fumo, cheiro a gasolina. O Egipto sente-se. “Cairo, és cheio. Cairo, és simpático. Cairo, és traiçoeiro.” Na comunicação pelo som, verde, amarelo ou vermelho, pouco interessa, no Cairo sente-se, na dança complicada o malabarismo da estrada é testado ao limite entre olhares e buzinas. Pobre criança que inventou o som “Pi” numa buzinadela de esperança, nunca terá ido ao Cairo, certamente perderia a confiança no ato de brincar. Na cultura do carro, quem está lá dentro é rei. O espectador é levado a passear nas ruas do Cairo, subjugado ao que é andar na cidade, num exercício puro de observação, ações inúteis sob o barulho das buzinas, palavras afogadas por um “Piiiiiiiii”.
Em The King of the Rood, a artista Maria Peixoto Martins leva o público em viagem, na parte de trás de um Chevrolet T, no caos de estímulos do centro metropolitano da cidade. É criada uma intimidade com os condutores e com os carros, um a extensão do outro, por um olhar voyeurístico de precisão que entra por dentro das janelas. No detalhe das imagens pelo desfoque da velocidade, sente-se um desconforto da intrusão quando o olhar do condutor é recebido pela lente da câmara. Da mesma forma que observa, Peixoto Martins sente-se observada entre o barulho das buzinas, na ausência do silêncio, uma peça nova no puzzle realçada pela diferença. A artista posiciona-se de fora para dentro, num núcleo confuso que só o confidente entende, de lente aberta ao interior.
The King of The Rood é uma imersão autêntica, despojada de equívocos, uma porta aberta de interpretações ao espectador, sem condescendência ou desatino, uma captura íntima e honesta transcendente às três dimensões. Caracterizada por um ar pesado de poluição mas leve de ironia e admiração, a obra é encapsulada no seu título, num “a” perdido algures nas ruas do Cairo.

Mariana Baião Santos, 2024
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EN
Pi
Pi
Pii Pi Pii Piiiiiiii
It’s heard.
In reality, it’s felt. The sound breaks the auditory barrier and enters our bodies, making itself felt throughout. It’s a sound you can see and feel in its reverberation, one might even say it has a taste—like the taste of sound, the taste of a car, the taste of smoke, the smell of gasoline.
Egypt is felt. "Cairo, you’re full. Cairo, you’re kind. Cairo, you’re treacherous." When communicating through sound, green, yellow, or red hardly matters—in Cairo, it’s felt. In the complex dance of the road, the juggling act is pushed to the limit through glances and honks. Poor child who invented the sound "Pi" in a hopeful honk has surely never been to Cairo; they would lose confidence in their game. In car culture, the one inside is king. The spectator is taken on a ride through Cairo's streets, subjected to the experience of city life, in a pure exercise of observation—useless actions drowned out by the noise of honks, words swallowed by a "Piiiiiiiii."

In The King of the Rood, artist Maria Peixoto Martins takes the audience on a journey, in the back seat of a Chevrolet T, through the chaos of stimuli in the metropolitan heart of the city.
An intimacy is created with the drivers and their cars, one an extension of the other, through a voyeuristic gaze that peers through the windows. In the blurred details of the images, caused by speed, there is an unsettling sense of intrusion when the driver’s gaze meets the camera lens. Just as she observes, Peixoto Martins feels observed—amid the noise of the honks, in the absence of silence, she becomes a new piece in the puzzle, highlighted by her difference. The artist positions herself from the outside in, in a confused core that only the insider understands, her lens wide open to the interior.

The King of the Rood is an authentic immersion, stripped of misunderstandings, an open door of interpretations for the viewer, without condescension or discord, an intimate and honest capture that transcends the three dimensions. Characterized by the heavy air of pollution but light with irony and admiration, the work is encapsulated in its title, in a lost "a" somewhere in the streets of Cairo.

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Mariana Baião Santos, 2024

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